domingo, 9 de dezembro de 2012

Ela.





Ela é daquelas que mordem o canudo do refrigerante, os lábios inferiores e meus lóbulos da orelha quando tem vontade. Gargalha ironicamente quando eu tropeço ou coisa assim, mas se eu faço um drama qualquer, corre como uma mãe
 desesperada para saber se estou bem. Ela nunca aceitou casar comigo, mas desdenha de qualquer mulher que se aproxima de mim com interesses românticos. Ela se diz minha dona, mas vive num mundo só dela.

Ela não sabe chorar. Quando está feliz, gargalha um sorriso de doze metros e me engole como uma faminta tubarão fêmea. Quando está triste, sorri com os olhos me pedindo um cadinho de atenção, um carinho no cotovelo ou vinte centímetros do meu peito para ela repousar suas dúvidas. “Coloca aquela música pra tocar”, ela diz. “Ok, mas prometa lembrar de mim sempre que ela tocar por aí”, eu respondo.

Sempre que caminho ao norte para longe dela, que se direciona ao sul, basta um risinho daquela pequena ou uma piscadela barata de cílios que minhas pernas já mudam de direção. Meu coração volta correndo para seus domínios como um menino que estava tentando matar aula e foi pego pelo inspetor. Às vezes, até chego na beira da estrada, sinto um cheirinho de vida sozinha, mas quando a vejo me olhar de costas, com os cabelos tapando metade de seu rosto, fazendo com aquele indicador maldito ondas que me chupam para seu lado.

Depois que a conheci, desconheci todo o resto. Ela veio me dizendo “oi’ e eu já fui me despedindo de tudo o que eu era antes. Não deve ser amor. Mas tô em dívida com tristeza desde que ela chegou.


- Hugo Rodrigues

Nenhum comentário: