Eu e meu smartphone, por exemplo, nos tornamos grandes amigos, até porque meus amigos estão nele, nos aplicativos de mensagens instantâneas e nas redes sociais. Já nem lembro da voz de alguns deles; mas sei como escrevem, conheço sua sintaxe e suas onomatopeias de risada. Vejo quando estão felizes ou tristes por meio de uma bolinha amarela que reproduz expressões faciais e funciona tão bem quanto o mais realista dos androides.
Meu smartphone e eu andamos de ônibus juntos, estudamos juntos, dormimos juntos; se esqueço, ele me lembra; se durmo demais, ele me acorda. Ele é muito inteligente, às vezes, mais inteligente do que eu. Não faço ideia de como se chama a capital do Camboja, mas meu smartphone sabe – "Phom Penh", ele acaba de me dizer –, e por isso eu o amo, por isso hippies e terroristas, cariocas e paulistas o amam.
Um smartphone vale por uma biblioteca, vale por um jornal, vale por um álbum de fotografia... vale por muito. Porém me dói quando vejo que pessoas reunidas no mesmo lugar, para o mesmo fim, às vezes preferem a virtualidade de seus smartphones e deixam de interagir com quem está próximo, e o pior, deixam de perceber muitas das coisas que acontecem ao seu redor.
No geral, meu smartphone e eu nos damos bem, exceto quando sua bateria acaba em hora indevida, ou quando seu Sistema Operacional resolve travar e me chamar de idiota. No entanto, nada se compara ao princípio de pânico que me toma quando esqueço o lugar onde o deixei e vou procurando por ele de um lado a outro, como se uma parte de mim (o coração) estivesse se afastando pouco a pouco, até que por fim o encontro, com os olhos marejados, e ele me faz prometer que coisas assim nunca mais vão acontecer.
Eu e meu smartphone dependemos um do outro, mas eu sei que tenho tudo sob controle, que minha relação com ele não vai nos atrapalhar no nosso dia-a-dia. Meu smartphone e eu deixamos isso bem claro, na terapia que recomendaram pra gente.
- Danilo Giógenes.
- Danilo Giógenes.
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