Alguém derruba tequila na minha blusa preferida, alguém pisa no meu pé e alguém me empurra no meio da música da Anitta. Depois, alguém simplesmente rouba o copo da minha mão e me beija. Não é você. Mas, enquanto você se mantém longe, eu deixo que ele invada a minha boca. E deixo que passeie com as mãos por lugares do meu corpo que você jurava, até ontem, que eram seus. É uma forma inconsciente de dizer: olha só, tão me roubando de você.
Enquanto me roubam do nosso passado, porém, é da sua sala que eu me lembro. Debaixo daquela almofada verde que fica no seu sofá, tem uma marca de cigarro que eu deixei nos nossos primeiros meses juntos. Qualquer dia, você bate o olho na mancha e se lembra de mim. Aquele creme que eu costumava passar nas suas costas quando te fazia massagem está na segunda prateleira do seu banheiro. E a comida no armário da cozinha fui eu que comprei. Deixei minha marca pela sua casa inteira, para você esbarrar comigo em cada hora do seu dia.
Eu vou esbarrando com você por aqui. Quando sinto meus pés doendo pelo salto que desacostumei a usar, lembro que nós dois não costumávamos sair. Eu ficava feliz em vestir sua camisa e passear descalça por seu apartamento de três cômodos, enquanto você tentava compor mais uma música que não iria para as paradas de sucesso. Eu era completamente louca pela sua voz, pelos seus acordes e pelos seus silêncios. Eu era completamente louca por você também. (E, boba que era, achei que era recíproco).
Cansada de lembrar de você, e com álcool e memórias demais no meu sangue, eu entro em um táxi qualquer e vou embora. Você ainda não se lembrou de mim. Ou é o que quer fingir, porque eu também já soube que você andou perguntando como eu ando para os nossos amigos em comum. Eu, por outro lado, lembrei como eu andava quando estava ao seu lado. Uma menina acuada, calada pelos seus ciúmes excessivos, diminuída pelas suas opiniões autoritárias. Todos os seus erros já passaram pela minha cabeça, e eu já me arrependi de você.
Eu chego em casa, me jogo na cama do jeito que estou e decido: acabou. Esse é o último porre que tomo de você e por você.
- Karine Rosa, Adaptado.
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