segunda-feira, 16 de março de 2015

Bichinho da Plenitude.

Parece que o bichinho da plenitude me pegou de vez. Me aquietei, tranquilizei e simplesmente optei por tocar o barco, independente do que está por vir. Uma sensação estranha, uma tranquilidade sensata. O mundo pode desabar, mas meu coração não vai mesmo gritar.

Não parei de sentir ou de vibrar a cada boa noticia, aprendi a não me abalar com o mundo hostil que está bem ali, depois da porta de entrada de casa. 

Aprendi a ser mais segura e menos inconstante, apesar de continuar intensa. Aprendi a respirar fundo e tentar não dar importância. Aprendi que algumas pessoas vão querer me magoar, aliás, vão se esforçar para isso, e eu por necessidade máxima vou precisar não me importar. Não que isso seja fácil, mas mágoa e coração não combinam. Deixa ir. 

Coração manso não se apega a miudezas mundanas. Coração manso mora em alma grande. 

Hoje assumo, sem modéstia alguma que cresci, que amansei um coração briguento e por vezes rabugento. Deixei histórias para trás, pessoas também. Me perdoei e desculpei aqueles que sem nem perceber – e as vezes até percebendo – que me faziam mal. Aprendi a relevar, a fechar a boca, a não contar planos, vantagem ou números. 

Parei de acreditar nas estatísticas e nos planos do governo. Comecei a me ver como cidadã do mundo e não apenas moradora de uma cidade chata.

domingo, 8 de março de 2015

Só Ser Mulher.



Eu queria ser só mulher. Sim, só mulher, assim como homens são só homens.
Ao defender direitos de gêneros, de igualdade no tratamento de homem e mulher, queria ser só mulher. Eu não queria ser feminista. Só mulher tava bom.
Quando tenho TPM, queria ser só mulher lidando com meus hormônios. Não queria ser temperamental, instável ou maluca. Só mulher.
Quando eu quero chegar em um carinha que eu quero conhecer, não queria ser fácil ou atirada. De novo, eu só queria mesmo era ser mulher.
Queria ser só mulher quando sou solteira. Nem encalhada, nem solteirona, nem titia. Mulher.
Na Índia queria ser só mulher, não dalit, nem intocável, nem estuprável, nem mártir. Só mulher.
Na África não queria ter lábios decepados pra manter minha pureza. Queria ser apenas mulher, com todos os lábios que Deus me deu.
Nas ruas de qualquer lugar também queria ser só mulher. Passando por construções, becos ou avenidas. Não queria ser “oh gostosa”, “senta aqui morena” ou “te chupava toda”. Só mulher tava de bom tamanho.
Quando eu declarar gostar de sexo, com palavras ou ações – e eu gosto mesmo – queria ser só mulher. Nem puta, nem safada, nem transarina, ou aquela que não é pra casar. Mulher.
Se não tiver as unhas ou depilação em dia, mulher.
Quando alcançar algum sucesso, nem “aquela que deu pro chefe”, ou “a filha do ‘homi’”. Só mulher tava bom.
Quando enfrentando o dilema de uma gravidez acidental, não queria ser assassina, criminosa, paciente ilegal. Mulher.
No volante, só mulher. E não “tinha que ser mulher”.
Se for curvilínea, nem gorda, nem relaxada: mulher.
Se for sarada, nem fútil, nem bombada: mulher.
Se for magra, nem anoréxica, nem fresca: mulher.
Se for feia, não quero ser puta-feia. Mulher.
Se for bela, não quero ser puta-gata. Mulher.
E se eu achar que está tudo errado, que meu lugar é onde eu bem entender, e se eu resolver não pedir permissão pra ninguém pra ser quem eu sou, ainda assim e independente do que pensem: mulher. Nem chata. Nem “moderninha”. Nem autossuficiente. Nem “mal comida”.
E isso vale pras Madalenas, Cassandras, Carens, Fridas, Joanas, Marias, Amélias, Malalas, Beyonces, Tinas, Anitas, Antônias e Tatiannas. Todas elas e cada uma delas.
Porque ser tudo isso aí que as más-línguas dizem sobre nós é muito fácil.
Difícil… Difícil é ser só mulher.
- Antônia no Divã, adaptado.