sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Tudo O Que Sinto.



Ela também teve seu coração machucado. Dilacerado, imagino. Normal. Desse mal, meu bem, ninguém escapa. Mas o bom disso tudo é que agora consigo abrir meu coração sem rodeios. 

Sim, amei sem limites. Dei meu coração de bandeja. Sim, sonhei com casinhas, jardins e filhos lindos correndo atrás de mim. Mas tudo está bem agora, eu digo: agora. Houve uma mudança de planos e eu me sinto incrivelmente leve e feliz. 

Descobri tantas coisas. Tantas, Tantas. Existe tanta coisa mais importante nessa vida que sofrer por amor. Que viver um amor. Tantos amigos. Tantos lugares. Tantas frases e livros e sentidos. Tantas pessoas novas. Indo. Vindo. Tenho só um mundo pela frente. E olhe pra ele. Olhe o mundo! É tão pequeno diante de tudo o que sinto. 

Sofrer dói. Dói e não é pouco. Mas faz um bem danado depois que passa. Descobri, ou melhor, aceitei: eu nunca vou esquecer o amor da minha vida. Nunca. Mas agora, com sua licença. Não dá mais para ocupar o mesmo espaço. Meu tempo não se mede em relógios. E a vida lá fora, me chama.

- Fernanda Mello.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O Poder Atômico das Sutilezas.



Doze de Junho. Gastei todo meu tempo tentando escolher a flor perfeita, aquela que possuía as pétalas mais simétricas e o arranjo mais sofisticado. Passei minutos pensando se aquela orquídea lilás combinaria com o quarto dela e se aquele laçarote não faria de mim o homem mais brega do mundo. Já no carro, lembrei que havia esquecido de comprar um cartão, então corri de volta a floricultura e peguei o primeiro impresso que vi, no qual estava escrito: “Você é meu amor, sabia?”
Toquei meia campainha e a porta rapidamente abriu-se, como se ela tivesse adivinhado que eu estava chegando. Além de linda ela estava visivelmente ansiosa. Sorri como aprendi nos filmes e em meio a tanto chichê das comédias românticas fiz a mágica de retirar a flor escondida atrás das costas. Ela sorriu, agradeceu e foi direto ao cartão. Abriu-o como se tivesse faminta pelas minhas palavras e esperasse que naquele pedaço de papel eu tatuasse meus sentimentos mais inconfessáveis. Sim, ela deixou a planta de lado e deu de cara com um papel escrito por outra pessoa, em larga escala de impressão e com dizeres extremamente genéricos. Naquele dia perdi a grande chance de ser único e percebi algo imenso, que mudaria a minha vida dali em diante:
Sutilezas têm um poder devastador.
Finalmente enxerguei a linha tênue e quase invisível que separa os simples presentes das grandes surpresas. Vi nos olhos decepcionados dessa antiga namorada o que todas as mulheres querem dos homens e, por incrível que pareça, não são apenas flores, chocolates, jantares e nem mesmo cartões. As mulheres esperam atitudes que demonstram que seus homens as entendem melhor do que elas próprias são capazes. Isso pode parecer assustador, mas mesmo que não venham com manual de instruções, as mulheres querem ser inteiramente lidas, aprendidas e, então, percebidas como peças únicas em toda galáxia.
Sim homens, pode parecer excesso de detalhismo, mas comecem a enxergar de verdade a mulher que dorme ao teu lado. Não abram apenas portas de carros, mas também os olhos e ouvidos para todos os detalhes e demonstrações feitas por elas. Liguem-se nos pequenos comentários, nas mínimas peculiaridades que as tornam única em meio a tantas outras e com isso, serão machos únicos também.
As surpresas mais ricas não são feitas com anéis de brilhante tirados de cartolas mágicas, ou de caminhões lotados com rosas colombianas. Surpreender uma mulher é dar-lhe algo, seja uma palavra, experiência, carinho sexual ou mesmo um presente, que demonstre o quanto você prestou atenção nela, o quanto você fez questão de entendê-la mesmo quando ela não soube como fazê-lo. Os presentes mais grandiosos cabem numa caixinha de fósforo, podem até ser feitos com tinta de caneta Bic, mas com certeza não servem tão bem para nenhuma outra mulher, pois precisam ser esculpidos e lapidados somente pra sua, ou pra aquela a quem quer encantar.
Surpreender de verdade é:
Entregar-lhe um bombom não apenas para matar-lhe o constante já redundante desejo chocólatra, mas para mostrar que, pelas pernas que não paravam de balançar, você percebeu que ela estava ansiosa por alguma coisa.
Aprender a fazer bolinho de arroz para impressioná-la em plena terça-feira, mesmo que ela só tenha dito uma vez na vida o quanto ela ama comer esse quitute.
Dar-lhe uma sapatilha nova, mas não apenas por saber que todas as mulheres do mundo amam sapatos, mas por ter prestado atenção em cada reclamação dela, dizendo o quanto ela odeia a dor que sente nos pés toda vez que é obrigada a usar salto alto.
Comprar um cartão inteirinho em branco somente para preenchê-lo com palavras que podem não significar nada para o resto da humanidade, mas que para ela e somente pra ela, resumem tudo.
Chupá-la e penetrá-la exatamente do jeito que a faz rasgar os lençóis, porque como homem, você nunca deixou de observar atentamente cada contração, latejar e orgasmo do corpo dela.
Ao fazer dela o material de estudo mais interessante que existe, você não tirará somente as melhores notas, mas conquistará também o poder estremecedor de transformar simples atitudes em memórias eternas.

Obs: Se você é uma mulher interesseira, desconsidere o texto acima.

- Ricardo Coiro, Casal Sem Vergonha.

Sou e Não Sou.



 'Sou uma cética que crê em tudo, uma desiludida cheia de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente, todo o mal da vida, uma indiferente a transbordar de ternura.'

Uma romântica que mostra desprezo, uma inteligente que prefere conversar sobre assuntos leves e uma sonhadora que não cria expectativas. - Tatianna Reiniger.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Desafio.



Quer um bom desafio? Experimente gostar de mim. Não sou fácil. Não coleciono inimigos. Quase nunca estou pra ninguém. Mudo de humor conforme a lua. Me irrito fácil. Me desinteresso à toa. Tenho o desassossego dentro da bolsa.

(...) Mas não tem nada, não. Bonito mesmo é essa coisa da vida: um dia, quando menos se espera, a gente se supera. E chega mais perto de ser quem - na verdade - a gente é. 

- Fernanda Mello.

Amor É Conversa de Botequim



A vida te dá uma rasteira. Você cai, tropeça, o sonho borra a maquiagem, o coração se espalha. Você sente dor, perde o rumo, perde o senso e promete: Paixão nunca mais. 

Você sente que nunca irá amar alguém de novo, que amor é conversa de botequim, ilusão de sentido, que só funciona direito pra fazer música, poesia e roteiro de cinema. E você inventa. Um amor pra distrair. Um amor pra ins-pirar, um amor pra trans-pirar. Uma paixão aqui, um quase-amor ali. 

Ainda bem que existem os amigos, para amar, abraçar, sorrir, cantar, escrever em recibos e tirar fotos bonitas. E a vida segue. Sua imaginação te preenche, e seus amigos te dão colo, Vodka e dias incríveis.

- Fernanda Mello.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Manual Para Os Homens.



Homens precisam passar segurança. Mas não precisa ser forte ou algo assim. Pode ser baixinho, gordinho e com pouco talento em artes marciais. Mas precisa passar segurança ao entrelaçar os dedos na gente como se ali gritasse que tudo vai dar certo. Homens precisam ter um colo paterno, mas saber que não são nossos pais. Homem é um misto de irmão mais velho ciumento, irmão mais novo implicante e primo safado da cidade grande.

Homens têm que chegar no horário e esperar sem reclamar. Esqueça aquela ideia de que mulheres se vestem para outras mulheres olharem. Na verdade, eu demoro horas me arrumando exclusivamente para você. A ideia é que você não olhe para outras mulheres. Homem tem andar do lado de fora da calçada e nos levar em casa sempre. Seja de carro, moto, ônibus, taxi ou a pé. Mas é importante nos levar no portão, assim, por tradição clichê, sabe? As mulheres evoluíram, eu sei. Mas o cavalheirismo não saiu da moda não. E pelo que ando lendo por aí, nunca sairá.

E não confunda cavalheirismo com homossexualidade. Há vários gays mal educados, também. Educação nada tem a ver com orientação sexual. Então, se você abrir a porta do carro, pedir para carregar os pesos e ceder o assento para qualquer mulher ou idoso não te faz um gay assumido, entende? Homem tem que ter pegada. Mas não achar que pegada significa arrancar tufos do meu cabelo. Tem que saber apertar meu rabo de cavalo sem tirar nenhum fio dali. Vai por mim, homens que machucam demais na hora da transa não são excelentes bons de cama. Homem tem que ser atencioso, seja para perceber que cortamos dois dedos do cabelo ou para distinguir nossos gemidos de “tente mais um pouco” e de “não para, pelo amor de Deus”.

Não me dê flores, chocolates, ursinhos de pelúcias ou etc. Me dê cartões. Escreva coisas estúpidas e bobas que me farão rir como uma criança. Depois disso, compre flores, chocolates e ursinhos. Você pode me dar um helicóptero todo rosa pink, com minhas iniciais na porta, mas se não tiver um cartãozinho surpresa com teus garranchos, não será a mesma coisa, entende?

Homens não precisam ser um Fred Astaire, mas é importante nos tirar para dançar. Não pela dança, em si, mas pelo ato de nos carregar pela mão pelo salão. Nos exibir por aí como sua maior conquista. Homens que nos amam são ótimos. Mas, melhores ainda são os que têm orgulho de nos amar. Eu não gosto de futebol, mas se você quiser me levar para assistir ao jogo com seus amigos, eu vou gostar, entende? É como te levar para almoçar na casa dos meus avós. Pouco me importa a comida ou algo assim, o que eu quero é te aproximar da minha família e te mostrar aos meus parentes.

Os homens quem leem são mais interessantes. E ser interessante vale mais do que olhos azuis e peitoral malhado. Não seja um chato replicador de frases do Caio Fernando Abreu ou coisa assim. Mas saiba declamar Fernando Pessoa ao pé do meu ouvido como se você mesmo tivesse escrito aqueles versos pensando em mim. É como não saber cantar, mas esforçar-se para cantar aquele refrão bonito dos Los Hermanos e dizer que lembra de mim toda vez que ouve, sabe?

Surpresas sempre são bem-vindas. Seja por um cartão bonitinho ou por aquela trufa de chocolate que você sabe que sou apaixonada. Entenda que presentes não são o preço que custaram. Como próprio nome já diz, presentes são para fazer presença. Então, cada vez mais que eu fizer presença em tua vida, saberei que faço parte dos teus dias, também.

Em dias nublados, homens têm que sair com casacos mesmo que não esteja sentindo frio. Hormonalmente, mulheres sentem mais frios do que os homens, então o seu casaco extra será importante nesses momentos. Mas não se esqueça de nos abraçar, também. Melhor do que casaco de lã é par de braços perfumados.

Homens precisam ser simpáticos. Mas nada de muito sorrisinho para qualquer vadiazinha em rede social. Nem solícito demais a ex-namoradas. Ter ciúmes é legal. Mas nada em exagero. Implique com meus decotes ou com meus vestidos curtos. Mas como quem cuida, não como quem ordena.

Sorria dos meus ciúmes, mas sem deboche. E me faça sorrir, também. Homens precisam saber nos fazer sorrir – mesmo que não sejam exímios contadores de piada. Mas é de extrema importância nos fazer sorrir. Seja por cócegas, por caretas, por se sujar ao lavar a louça ou por comprar o box de The Big Theory. Mas me faça sorrir. Entendam que a porta do coração das mulheres está nas gargalhadas que ela dá ao seu lado.


- H. Rodrigues.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Solidão Necessária.



Tenho uma particularidade instigante: preciso da solidão. Gosto de pessoas, preciso delas, não sei viver sozinha. Mas gosto de ver televisão sozinha, sem ninguém falando junto. Sou chata, não gosto de dividir banheiro com ninguém. Sou espaçosa, gosto das minhas coisas em seus lugares. Preciso da solidão pra ler, pra olhar para o teto, pra escrever, pra fazer as unhas, pra pensar em tudo, pra fazer nada. Preciso da solidão pra ser eu mesma. 


- Por Tatianna Reiniger. Adaptado do texto de Clarissa Corrêa.

domingo, 25 de novembro de 2012

Desejo



'Gostaria de te desejar tantas coisas. Mas nada seria suficiente. Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos. Desejos grandes. E que eles possam te mover a cada minuto, ao rumo da sua felicidade!'

- Carlos Drummond de Andrade.

domingo, 18 de novembro de 2012

Te Esqueci.

 

Te esqueci na noite passada, desculpa. Rápido, eu sei, a gente nem chegou a começar, mas uma hora tudo termina, você deve saber também. Pra ser sincera, tô me desculpando por educação, gentileza ou hábito, não que eu devesse algum tipo de desculpa ou satisfação. Pra ninguém nesse mundo, aliás! Tudo bem pra você? Espero que sim, não me importo se não. É assim que é, não é? Tô aprendendo, eu diria. 

 Passei alguns anos repetindo freneticamente, como um mantra maldito, que "quem muito se ausenta, uma hora deixa de fazer falta", uma das frases mais sábias que eu já li e desejava com todas as minhas forças que um dia eu pudesse repetir com total propriedade. Já posso. Melhor, agora se ausentou um pouco, já perdeu o espaço

 Tô com pressa, preguiça ou só espaçosa demais, não sei, mas tá tudo muito melhor. Quer vodka? Pega pra dois. Sem drama, sem expectativas ou babados cor de rosa. Nada dói e é como se tivesse sido tirado um peso das minhas costas, que eu já achava que era parte de mim. 

 Triste vocês sempre precisando perder pra valorizar, muito feliz eu finalmente me encontrando, ainda que do avesso, se preciso. Tão mais leve quando o sentimento não passa de interesse. Porque interesse, você sabe, só precisa de um outro alvo mais interessante pra ter fim. E ir embora me parece bem mais justo do que aguentar qualquer outra partida, de gente que nunca mereceu nem que eu ficasse.

- Marcella Fernanda.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Antes Só.



 Antes só, do que mal acompanhada. E o ditado popular mais batido do mundo nunca me fez tanto sentido. É isso, era isso o tempo todo. Aguentar um monte por causa de amor, remar sozinha, fazer de tudo pra dar certo, tudo muito bonito, mas nada prático e, no fim das contas, quase nunca vale a pena. 

 Faria sim tudo de novo, mas só porque preciso esgotar todas as possibilidades pra não surtar, não porque eu acho que poderia dar certo de alguma outra forma. Os conselhos da minha mãe e das minhas amigas ecoam nos meus pensamentos, como um tipo de eu-te-avisei e eu concordo com a cabeça, fazer o que? Certas elas, burra eu. Sempre é tudo tão óbvio pro resto do mundo e me irrita esse tipo de estado patético de cegueira e total vulnerabilidade que o amor submete a gente. 

 E, por hoje, só peço que Deus me livre de qualquer amor ou quase isso e que, mais tarde, Ele me perdoe pelo meu pedido desesperado e cansado de livramento, depois de tempos tão difíceis e tudo bagunçado por dentro. 

 Acontece que, depois do amor, não dá pra seguir em frente sem férias. Então declaro, oficialmente, meu período de recesso emocional. Longo, eu espero. Pra respirar, me recompor, experimentar. Pra me amar e fazer de tudo por mim, pra variar essa história. Um pouco de mim pro mundo, muito do mundo pra mim e let it be. É que eu já não tenho forças pra iniciar novas histórias, entende? Só não consigo... Me dá calafrios toda vez que penso em me apaixonar e talvez essas mulheres malucas de filme, que não deixam passar do quinto encontro pra não criar nenhum tipo de vínculo, sejam só espertas demais. É, hoje não acho má ideia, muito pelo contrário. Tô esperta ou louca também. Provavelmente os dois.

- Marcella Fernanda.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Quem é feliz.





Quem é feliz não espalha, não grita aos quatro cantos de uma maneira 'forçada'. Quem é feliz, satisfaz-se por ser e isso se torna tão transparente que transparece no olhar, completamente na pessoa. 

Quem é feliz sabe que a felicidade anda coladinha à inveja. Quem é feliz não precisa provar e reafirmar nada, simplesmente é. As pessoas felizes demais nunca me inspiraram confiança. Essa coisa de que a vida é uma festa e não existe nada errado, não me brilha aos olhos. 

Feliz é quem conhece o lado mau da vida e respeita-o. Somente quem já teve momentos infelizes pode entender que a tristeza traz um punhado muito bom de aprendizado. Felicidade não é para quem grita mais alto, é pra quem sorri mais fundo. Felicidade é pra quem o verdadeiro transborda naturalmente.

- Autor Desconhecido, Adaptado.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Se Não Podes.



Se não podes ser vento, que sejas brisa leve.
Se não podes ser ar, que tenhas lábios salvadores.
Se não podes ser sol, que tenhas abraços apertados e calorosos.
Se não podes ser mar, que tenhas calmaria em teu colo e ondas em teu acarinhar.
Se não podes ser mata, que tenhas o que esconder e o que mostrar.
Se não podes ser flor, que tenhas perfume em teu corpo.
Se não podes ser pássaro, que caminhe

 espalhando bons cantos.
Se não podes ser a felicidade, que tenhas um sorriso largo.
Se não podes voltar no tempo, que sejas sempre uma eterna criança.
Se não podes ser Deus, que tenhas amor ao outro.
Se não podes ser outro, que sejas o melhor que você possa ser.

Hugo Rodrigues.

sábado, 3 de novembro de 2012

Cachorros Convictos.

Sinceramente? Sou, assumidamente, fã dos cachorros convictos. Isso mesmo, do cara que te diz que não quer se envolver, com todas as letras. Que gosta de você, da noite, das bebidas, das biscats e não esconde isso, pelo contrário. 

Não, quando eu gosto mesmo de alguém, não sou do tipo desapegada por natureza e me dá nos nervos aturar esse tipinho de vida, quase sempre. Também passo longe de fazer a linha não-ciumenta, let it be. Gosto de romance, mimimi, cinema, clichês, pronomes possessivos. Mas é que entre todas as coisas que eu gosto, tem uma que eu não abro mão: Sinceridade. E, por isso, prefiro um filho da puta sincero do que um príncipe de mentirinha. 

Prefiro poder ficar em paz e saber que tudo que ele diz provavelmente é verdade mesmo, porque dificilmente são coisas bonitas e, quando são, tem muito valor, porque são raras e não complemento do "Bom dia". Não tô com um santo, mas sei todos os pecados pela boca dele, sem disse-me-disse, sem ter que pagar de detetive. 

Acho que é um tanto quanto tranquilizador você saber exatamente o tipo de pessoa que tem do lado, entende? Não tenho paciência ou conformidade pra aguentar o cara perfeito, falando coisas perfeitas, fazendo juras de filme, com promessa de filhos correndo pela casa e um cachorro no quintal. Eu ia surtar todos os dias, tentando descobrir quem é ele longe de mim, porque ele é homem e tudo isso tá muito errado. Não ia conseguir achar lindo, morrer de amores e ponto, topar ser resgatada da torre, com um sorriso de canto a canto.

Tipo de gente e de história que não me convence: "Encantada". Acredito em fidelidade, acredito e espero. Felicidade a dois, cumplicidade e todas essas coisas. Mas somos todos vacilantes e ninguém aqui é personagem de um filme de romance, então vamos nos poupar. Vou te contar, eu amo flores. Mas amo muito mais a verdade.

Maturidade e Contos de Fadas.



Com o tempo, nos tornamos pessoas maduras, aprendemos a lidar com as nossas perdas e já não temos tantas ilusões. 'Sabemos que não iremos encontrar uma pessoa que, sozinha, conseguirá corresponder 100% a todas as nossas expectativas sexuais, afetivas e intelectuais. Os que não se conformam com isso adotam o rodízio e aproveitam a vida. Que bom, que maravilha, então deveriam sofrer menos, não? O problema é que ninguém é tão maduro a ponto de abrir mão do que lhe restou de inocência. Ainda dói trocar o romantismo pelo ceticismo, ainda guardamos resquícios dos contos de fada. Mesmo a vida lá fora flertando descaradamente conosco, nos seduzindo com propostas tipo "leve dois, pague um", também nos parece tentadora a ideia de contrariar o verso de Duclós e encontrar alguém que acalme nossa histeria e nos faça interromper as buscas.

- Martha Medeiros.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Amor Sadio.





Não dá para brincar de gato e rato com o amor. Só é teu o que cabe em teu peito. Se transborda o teu corpo, pertence ao mundo. Amor foi feito para completar. Para somar. Para sorrir. Para caminhar ao lado e dar a mão para cada tropeço, sabe?

Não dá para correr atrás do amor. Amor não é corrida. Nem muito menos prova de resistência. Amor é um passeio com vista para o mar com o sol se pondo no Arp
oador. Quando machuca, sua, dói, enlouquece, não é amor, é doença. Amor é sadio. É bicho irradio que quer ser domesticado.

Quando há greve de fome, falta de concentração, quando há mais choro do que riso, ameaças de morte ou ciúme excessivo, é doença. Amor é cura. É um gole da loucura. É louco apenas em não sentir o chão. E, não, cair com a cara nele.

Então, se não for amor, menino, pegue tua mochila que eu não estou pronta para esta viagem nebulosa contigo. Mas, se for, eu te empresto meu peito-travesseiro e te dou o papel principal das minhas histórias.

- Hugo Rodrigues.

Lágrimas, Rímel, Cartas.




 Talvez ele não saiba que aquela dor que ele causou, calou os olhos dela violentamente por uns tempos. Isso não é crime, é carma: magoar alguém assim, dentro do melhor vestido, remover com lágrimas o rímel cuidadosamente passado, deixar tão descrente alguém que achava a vida mágica.


 Talvez ele nem desconfie que quando ele disse eu vou embora e ela tudo bem, logo que se deram as costas, ela respirou fundo uma, duas, três vezes, colocou quatro gotas de floral de Bach embaixo da língua e se afundou na tristeza (...) 

 Talvez ele nunca saiba que ela mudou os móveis de lugar (...) Dormiu no chão, quis mudar de religião. (...) Pensou em mudar de curso, de profissão, de cidade. Quis mudar de si, já que seu corpo era a casa de um só sentimento. Fez uma viagem, não quis conhecer ninguém, posou de antipática porque estava apática. Se escondeu da lua cheia, fez do seu quarto um campo de concentração e depois se mudou para sala. Trancou todas as portas pra não entrar qualquer ilusão. Por tanto tempo era ela e sua tristeza intransitiva. 

 O que ele também não sabe porque nem ela sabia, é que um dia ela acordaria assim, vazia daquele amor. A dor exaustiva de cabeceira havia cessado, deixada no fundo do poço. Parou de se alimentar daquela porção individual de desilusão e enterrou o passado num túmulo desconhecido, para que não houvesse a menor possibilidade de revisitá-lo. 

 Havia criado um mantra: No momento em que me dei inteira, ele me deu as costas. Isso não pode continuar supervalorizando uma saudade. Ser uma mulher curada de um amor, dependendo das circunstâncias, pode ser melhor que ser uma mulher amada... por ele. 

E o seu melhor vestido pedia uma nova chance e um rímel à prova dágua. 



- Marla de Queiroz.